Arrefece,
dizias. É o frio,
disse eu,
que te acaricia
a pele. Que nela
se aquece. Que nela
se esquece.
9 semanas e meia
Deixa o veneno
levedar no copo. Deixa-o
ser golfo
de sangue, lágrima
ancorada, acidulada
tinta do delírio. Deixa-o
ser lume, fumo, gume
obsceno.
9 semanas e meia
Não digas
beijo, diz
a boca. Não
digas rio, diz
a fonte. Diz
apenas.
9 semanas e meia
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
M. é amor... é bom e faz bem... o resto conta pouco na hora em que o "sim" é palavra e não "suspiro"
O quarto mobilado na viela.
A campainha aos pés da cama.
Não será o amor um laço estreito
entre a angústia e o prazer?
Sandro Penna
A campainha aos pés da cama.
Não será o amor um laço estreito
entre a angústia e o prazer?
Sandro Penna
para os admiradores... para os que não admiram mas têm curiosidade em ler... para todos os que gostam de "F"
É importante foder (ou não foder)?
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Mas mesmo nada
A ver.
O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se põe a endurar e
A dilatar a dilatar
Até não se poder nem deixar andar
Para depois sumir
E dar vontade de rir e d´ir urinar.
Isso eu o quiz dizer naquele verso louco que tenho ao pé:
«O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é»
Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por mim até).
........................................................................
Também aquela do «outrora-agora» e do «ah poder ser tu eu»
foi um bom trabalho
Para continuar tudo co´a cara de caralho
Que todos já tinham e vão continuar a ter
Antes durante e depois de morrer.
Mário Cesariny
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Mas mesmo nada
A ver.
O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se põe a endurar e
A dilatar a dilatar
Até não se poder nem deixar andar
Para depois sumir
E dar vontade de rir e d´ir urinar.
Isso eu o quiz dizer naquele verso louco que tenho ao pé:
«O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é»
Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por mim até).
........................................................................
Também aquela do «outrora-agora» e do «ah poder ser tu eu»
foi um bom trabalho
Para continuar tudo co´a cara de caralho
Que todos já tinham e vão continuar a ter
Antes durante e depois de morrer.
Mário Cesariny
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
acordei com a respiração acelerada e o corpo em extase... tu não estavas! mergulhei novamente no sonho...
Estaria o meu terno senhor a assobiar
à sua porta, ou queria entrar de noite,
sem chave, no meu coração?
Sandro Penna
à sua porta, ou queria entrar de noite,
sem chave, no meu coração?
Sandro Penna
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
tem muita graça e não fere os mais púdicos... obrigada RR!
João comprou um par de sapatos novos e chega a casa:
- Maria o que achas?
- Acho de quê?
- Não notas nada de diferente?
- Não...
João vai à casa de banho, tira a roupa toda e volta apenas com os sapatos
novos calçados.
- E agora? Já notas alguma coisa diferente?
- Não, o 'coiso' continua pendurado para baixo, assim como estava
ontem e como estará amanhã!
- E SABES PORQUE É QUE ELE ESTÁ PENDURADO PARA BAIXO?
- Porquê?
- Porque ele está a olhar para os meus sapatos novos!
- Hum... podias ter comprado um chapéu ...
p.s. a edição 2010 do programa "a poesia está na rua" - humor com humor se paga, explorou o humor e a graça poética. RIR faz sempre bem... mesmo (ou sobretudo) quando tem qualquer "coisa de picante"!!!
- Maria o que achas?
- Acho de quê?
- Não notas nada de diferente?
- Não...
João vai à casa de banho, tira a roupa toda e volta apenas com os sapatos
novos calçados.
- E agora? Já notas alguma coisa diferente?
- Não, o 'coiso' continua pendurado para baixo, assim como estava
ontem e como estará amanhã!
- E SABES PORQUE É QUE ELE ESTÁ PENDURADO PARA BAIXO?
- Porquê?
- Porque ele está a olhar para os meus sapatos novos!
- Hum... podias ter comprado um chapéu ...
p.s. a edição 2010 do programa "a poesia está na rua" - humor com humor se paga, explorou o humor e a graça poética. RIR faz sempre bem... mesmo (ou sobretudo) quando tem qualquer "coisa de picante"!!!
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
chegou pela manhã e trazia o perfume da memória... obrigada M.
CONHEÇO O SAL
Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.
Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.
Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.
Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.
Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.
A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.
Jorge de Sena
Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu inverno
da carne repousando em suor nocturno.
Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.
Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.
Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.
Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.
A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.
Jorge de Sena
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
O POETA NU - Jorge Sousa Braga >>>> impossível não gostar da "simplicidade de dizer" deste autor - ora vejam!
diz o autor:
Os poemas que se seguem pretendem aproximar-se da simplicidade (ilusória) de uma gota de água. (...) Por último, um lamento: que estes poemas não possam chegar ao leitor da forma mais apropriada, ou seja, em folhas de trevo.
STRIP-TEASE
Quanto mais me dispo
menos nu
me sinto
9 semanas e meia
A borboleta que poisou
no teu mamilo perdeu
vontade de voar
9 semanas e meia
Vou ao céu
E venho-
-me
9 semanas e meia
Não posso
amar
mais claro
9 semanas e meia
Escrevo
com os dedos ainda longos
da carícia
9 semanas e meia
Ainda agora em ti entrei
e já em todos os teus poros
me achei
9 semanas e meia
Não é a rosas nem a violetas
nem a jasmim o cheiro
que me põe fora de mim
9 semanas e meia
GRANADA
O sumo das romãs
escorre-te
por entre os seios
9 semanas e meia
OPALA
Será de uma gota de esperma
o arco-íris que se desenha
neste poema?
9 semanas e meia
MULHER
Metade mulher metade pássaro
Metade anémona metade névoa
Metade água metade mágoa
Metade silêncio metade búzio
Metade manhã metade fogo
Metade jade metade tarde
Metade mulher metade sonho
9 semanas e meia é aqui usado para anunciar cada um dos textos
Os poemas que se seguem pretendem aproximar-se da simplicidade (ilusória) de uma gota de água. (...) Por último, um lamento: que estes poemas não possam chegar ao leitor da forma mais apropriada, ou seja, em folhas de trevo.
STRIP-TEASE
Quanto mais me dispo
menos nu
me sinto
9 semanas e meia
A borboleta que poisou
no teu mamilo perdeu
vontade de voar
9 semanas e meia
Vou ao céu
E venho-
-me
9 semanas e meia
Não posso
amar
mais claro
9 semanas e meia
Escrevo
com os dedos ainda longos
da carícia
9 semanas e meia
Ainda agora em ti entrei
e já em todos os teus poros
me achei
9 semanas e meia
Não é a rosas nem a violetas
nem a jasmim o cheiro
que me põe fora de mim
9 semanas e meia
GRANADA
O sumo das romãs
escorre-te
por entre os seios
9 semanas e meia
OPALA
Será de uma gota de esperma
o arco-íris que se desenha
neste poema?
9 semanas e meia
MULHER
Metade mulher metade pássaro
Metade anémona metade névoa
Metade água metade mágoa
Metade silêncio metade búzio
Metade manhã metade fogo
Metade jade metade tarde
Metade mulher metade sonho
9 semanas e meia é aqui usado para anunciar cada um dos textos
...estou à espera da tarde...
Antes que a noite acabe
Acende a luz da minha vida
Com a tua chama, oh, meu Amor!
Estou à espera da tarde
Em que vens pelo caminho trazendo a tua chama,
E o meu coração amadurecido nas suas trevas
Acender-se-á como uma labareda.
Rabindranath Tagore
Acende a luz da minha vida
Com a tua chama, oh, meu Amor!
Estou à espera da tarde
Em que vens pelo caminho trazendo a tua chama,
E o meu coração amadurecido nas suas trevas
Acender-se-á como uma labareda.
Rabindranath Tagore
uma verdadeira delícia...
A EVOCAÇÃO DO CHIMPANZÉ
Alberto Pimenta
comprei um bilhete e um cartucho de amendoins e entrei no cinema. tu compraste um bilhete e um cartucho de amendoins e entraste no cinema, sentámo-nos na mesma fila, lado a lado, eu abri o meu cartucho de amendoins, tu abriste o teu cartucho de amendoins, com um ruído exactamente igual ao meu. voltei-me para ti e mostrei os dentes. Tu voltaste-te para mim e mostraste os dentes. quando a luz apagou, tu pousaste o teu cartucho de amendoins no colo e eu pousei o meu cartucho de amendoins no colo. com a mão direita comecei a levantar-te a saia. para me facilitar a tarefa, tu levantaste levemente as nádegas do assento. com esse gesto, caiu-te do colo o cartucho de amendoins. assim que os amendoins acabaram de se espalhar no chão, abaixei-me para tos apanhar, mas esqueci-me do meu cartucho de amendoins, o qual me caiu igualmente ao chão. gastei um tempo enorme a procurar e a recolher todos os amendoins. lembro-me de que passei o tempo quase todo até ao intervalo recolhendo os amendoins. todo o tempo tu não deixaste de suspirar e de gemer, embora estivesse apenas a decorrer um documentário sobre o narciso e nenhum drama comovente. a voz do locutor lembro-me que dizia: « no começo da primavera, quando montes e vales acordam do longo sono de inverno, centenas e centenas de narcisos elevam as douradas cabeças em todas as frestas e abrigos do solo, e lançam seu olhar inocente pelos portentosos rochedos e pelas raízes nodosas da floresta.» isto, como certamente te lembras, foi antes do intervalo. depois, quantas vezes, oh quantas vezes não deixaste cair e eu deixei cair os amendoins que nos restavam. e ora eu, ora tu, de cada vez descíamos a procurá-los, e a colhê-los com suaves, ternos guinchos. o filme, no dizer da crítica, era daqueles que se não podem perder.
p.s. para os interessados... amanhã no auditório da biblioteca municipal de santo tirso (18:00h) e na voz de Alberto Serra - "9 semanas e meia" inícia a sua aparição [de forma discreta e a meia luz e sem revelar (ainda) o que se segue]
o teu nome acaricia a minha pele... sussurro e mordo o lábio ao som de ti...digo: SIM
QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
põe a tua mão...
Põe-me as mãos no sexo,
Beija-me na coxa,
Abre-me no plexo,
Uma ferida roxa.
Eu não sei porquê,
Meu dês d´onde venho,
Sou o ser que vê
Só o seu tamanho.
Põe a tua mão
Num laço sem fim,
E chega ao desvão,
Abre-o para mim.
Mário Cesariny
Beija-me na coxa,
Abre-me no plexo,
Uma ferida roxa.
Eu não sei porquê,
Meu dês d´onde venho,
Sou o ser que vê
Só o seu tamanho.
Põe a tua mão
Num laço sem fim,
E chega ao desvão,
Abre-o para mim.
Mário Cesariny
ontem chovia copiosamente. molhou todos os beijos que demos. as nossas roupas pingaram de tanto amor que fizemos. amor, quero-te...
Sua Excelência: o Amor
Sentado alto do trono
Bem alto, no pedestal,
Amor superior se sente
Diz-se nobre como tal
Veste pele de cordeiro
Quando decide atacar
Deixa as presas indefesas
Cercadas pelo seu olhar
É doce, enganador,
Muito terno, explosivo
Quando quer, arrebatador,
Cruel, se achar preciso
Pode reflectir um anjo
Em seu nome ser demónio
Tudo que enche uma vida
Ser na tristeza o antónimo
É lindo vê-lo a correr
À procura do verdadeiro
Mover mundos e fundos
Quer ele ser o primeiro
Tanto se fala do amor,
Bem, mal, por tudo e nada
Vou guardar o que sei p’ra mim
Deixar-me ficar calada
Anyta, 2009.12.15
p.s. este poema tem a assinatura de uma poetisa tirsense. obrigada, Maria! obrigada, Anyta!
Sentado alto do trono
Bem alto, no pedestal,
Amor superior se sente
Diz-se nobre como tal
Veste pele de cordeiro
Quando decide atacar
Deixa as presas indefesas
Cercadas pelo seu olhar
É doce, enganador,
Muito terno, explosivo
Quando quer, arrebatador,
Cruel, se achar preciso
Pode reflectir um anjo
Em seu nome ser demónio
Tudo que enche uma vida
Ser na tristeza o antónimo
É lindo vê-lo a correr
À procura do verdadeiro
Mover mundos e fundos
Quer ele ser o primeiro
Tanto se fala do amor,
Bem, mal, por tudo e nada
Vou guardar o que sei p’ra mim
Deixar-me ficar calada
Anyta, 2009.12.15
p.s. este poema tem a assinatura de uma poetisa tirsense. obrigada, Maria! obrigada, Anyta!
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
"nove semanas e meia" edita e agradece...
Luís Vendeirinho
"Quando a poesia está na rua há um estranho que traz amor nos bolsos rotos, o vento é feito de esperança, a chuva cai como gomos de alegria sobre o chão macio, quando a poesia está na rua não há portas nas casas, nem janelas cerradas no olhar das crianças, quando a poesia está na rua abrigo-me da minha solidão sob a árvore onde se colhem palavas como beijos, sob cuja sombra se beija como quem diz o nome das coisas para ser inscrito em forma de nuvem, e a poesia é a rua e todos os passos envoltos nas esquinas de que ela é feita..." LV (Abraço de parabéns)
"Quando a poesia está na rua há um estranho que traz amor nos bolsos rotos, o vento é feito de esperança, a chuva cai como gomos de alegria sobre o chão macio, quando a poesia está na rua não há portas nas casas, nem janelas cerradas no olhar das crianças, quando a poesia está na rua abrigo-me da minha solidão sob a árvore onde se colhem palavas como beijos, sob cuja sombra se beija como quem diz o nome das coisas para ser inscrito em forma de nuvem, e a poesia é a rua e todos os passos envoltos nas esquinas de que ela é feita..." LV (Abraço de parabéns)
maria, muito obrigada! "nove semanas e meia" deseja a todos os enamorados um excelente "dia dos namorados" e sugere o uso e abuso da poesia, para revelar "sentidos" escondidos em beijos e carícias... viva o amor e viva quem o diz!
Desespero
Inteiramente o perdeu.
E só pensa em procurar
nos lábios que se lhe oferecem
de sucessivos amantes
esses lábios desejados;
e preso num outro abraço
de cada amante se encontra,
só procura a ilusão
de que a ele se entrega
como tanto se entregou.
Inteiramente o perdeu.
Como se nunca existira.
Ele queria -ao que então disse -
poder ainda "salvar-se"
desse terrível estigma
da vergonha que é prazer.
Porque ainda estava a tempo
de fugir e de "salvar-se".
Inteiramente o perdeu.
Como se nunca existira.
Por força do imaginar,
alucinado e iludido,
nos lábios de outros amantes
só procura descobri-lo,
nesses lábios encontrar
a paixão que conheceu.
1923 Contantino Cavafy (traduzido por Jorge de Sena)
13 de Fevereiro de 2011 17:41
Inteiramente o perdeu.
E só pensa em procurar
nos lábios que se lhe oferecem
de sucessivos amantes
esses lábios desejados;
e preso num outro abraço
de cada amante se encontra,
só procura a ilusão
de que a ele se entrega
como tanto se entregou.
Inteiramente o perdeu.
Como se nunca existira.
Ele queria -ao que então disse -
poder ainda "salvar-se"
desse terrível estigma
da vergonha que é prazer.
Porque ainda estava a tempo
de fugir e de "salvar-se".
Inteiramente o perdeu.
Como se nunca existira.
Por força do imaginar,
alucinado e iludido,
nos lábios de outros amantes
só procura descobri-lo,
nesses lábios encontrar
a paixão que conheceu.
1923 Contantino Cavafy (traduzido por Jorge de Sena)
13 de Fevereiro de 2011 17:41
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
sugeriste um beijo na face [e eu dei] depois desse beijo surgiu outro [que eu também dei] agora deixo a imaginação livre para os suspiros e as [sugestões]
Sim, dizias tu, mas em seguida
corrigiste: talvez. Esta
é a única palavra
que não tem casa. Que mora
no intervalo
entre o som e o silêncio.
Albano Martins
corrigiste: talvez. Esta
é a única palavra
que não tem casa. Que mora
no intervalo
entre o som e o silêncio.
Albano Martins
conforme havia sido prometido, eis a lista dos livros que irão povoar o imaginário de "nove semanas e meia"
O POETA NU
[poesia reunida]
Jorge Sousa Braga
Assírio & Alvim
366 POEMAS QUE FALAM DE AMOR
uma antologia organizada por
Vasco Graça Moura
Quetzal Editores
E COMO ERAM AS LIGAS DE MADAME BOVARY?
Francisco Umbral
Campo das Letras
PALINÓDIAS,
PALIMPSESTOS
Albano Martins
Campo das Letras
POEMAS
COM CINEMA
antologia organizada por
Joana Matos Frias
Luís Miguel Queirós
Rosa Maria Martelo
Assírio & Alvim
DO MUNDO GREGO OUTRO SOL
antologia Palatina e antologia de planudes
selecção, tradução e notas
Albano Martins
Edições ASA
A MUSA IRREGULAR
Fernando Asis Pacheco
Assírio & Alvim
MORTAL E ROSA
Francisco Umbral
Campo da Literatura
...quanto ao conteúdo de cada obra aguardem, pois "nove semanas e meia" tem todo o prazer de vos proporcionar "deliciosas" leituras!
[poesia reunida]
Jorge Sousa Braga
Assírio & Alvim
366 POEMAS QUE FALAM DE AMOR
uma antologia organizada por
Vasco Graça Moura
Quetzal Editores
E COMO ERAM AS LIGAS DE MADAME BOVARY?
Francisco Umbral
Campo das Letras
PALINÓDIAS,
PALIMPSESTOS
Albano Martins
Campo das Letras
POEMAS
COM CINEMA
antologia organizada por
Joana Matos Frias
Luís Miguel Queirós
Rosa Maria Martelo
Assírio & Alvim
DO MUNDO GREGO OUTRO SOL
antologia Palatina e antologia de planudes
selecção, tradução e notas
Albano Martins
Edições ASA
A MUSA IRREGULAR
Fernando Asis Pacheco
Assírio & Alvim
MORTAL E ROSA
Francisco Umbral
Campo da Literatura
...quanto ao conteúdo de cada obra aguardem, pois "nove semanas e meia" tem todo o prazer de vos proporcionar "deliciosas" leituras!
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
"nove semanas e meia" já possui uma mini-biblioteca (amanhã daremos conta dos títulos) - obrigada Alberto Serra
POEMA
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny de Vasconcelos
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.
Mário Cesariny de Vasconcelos
finjo não ver... finjo não querer... finjo ainda que prefira despir a mentira...
DE: CAFÉ
(Finjo que não vejo as mulheres
que passam, mas vejo.)
De súbito, o diabinho que me dançava nos olhos,
mal viu a menina atravessar a rua,
saltou num ímpeto de besouro
e despiu-a toda...
E a Que-Sempre-Tanto-Se-Recata
ficou nua,
sonambulamente nua,
com um seio de ouro
e outro de prata.
José Gomes Ferreira
(Finjo que não vejo as mulheres
que passam, mas vejo.)
De súbito, o diabinho que me dançava nos olhos,
mal viu a menina atravessar a rua,
saltou num ímpeto de besouro
e despiu-a toda...
E a Que-Sempre-Tanto-Se-Recata
ficou nua,
sonambulamente nua,
com um seio de ouro
e outro de prata.
José Gomes Ferreira
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
balanço e avanço... recuo perante a tua indiferença... dissolvo a paixão em mim
O INCONSTANTE
Os meus olhos partiram
atrás duma morena
que passou.
Era de nácar negro,
da cor das uvas roxas,
e açoitou-me o sangue
com sua cauda de fogo.
Atrás de todas
eu vou.
Passou uma clara loira
como uma planta de ouro
balanceando os seus dons.
E a minha boca foi
como uma onda
desferindo em seu peito
relâmpagos de sangue.
Atrás de todas
eu vou.
Mas para ti, sem me mover,
sem te ver, à distância,
vão meu sangue e meus beijos,
morena e clara minha,
alta e pequena minha,
larga e delgada minha,
minha feia e formosa,
feita de todo o ouro
e de toda a prata,
feita de todo o trigo
e de toda a terra,
feita de toda a água
das ondas do mar,
feita para os meus braços,
feita para os meus beijos,
feita para a minha alma.
Pablo Neruda
Os meus olhos partiram
atrás duma morena
que passou.
Era de nácar negro,
da cor das uvas roxas,
e açoitou-me o sangue
com sua cauda de fogo.
Atrás de todas
eu vou.
Passou uma clara loira
como uma planta de ouro
balanceando os seus dons.
E a minha boca foi
como uma onda
desferindo em seu peito
relâmpagos de sangue.
Atrás de todas
eu vou.
Mas para ti, sem me mover,
sem te ver, à distância,
vão meu sangue e meus beijos,
morena e clara minha,
alta e pequena minha,
larga e delgada minha,
minha feia e formosa,
feita de todo o ouro
e de toda a prata,
feita de todo o trigo
e de toda a terra,
feita de toda a água
das ondas do mar,
feita para os meus braços,
feita para os meus beijos,
feita para a minha alma.
Pablo Neruda
suspendo o beijo... quero-o inteiro e sem pressa... tenho os lábios entreabertos e o coração inquieto por te saber aqui (tão perto)
O OLEIRO
Há em todo o teu corpo
uma taça ou doçura a mim destinada.
Quando levanto a mão
encontro em cada lugar uma pomba
que andava à minha procura, como
se te houvessem, meu amor, feito de argila
para as minhas mãos de oleiro.
Os teus joelhos, os teus seios,
a tua cintura,
faltam em mim como no côncavo
duma terra sedenta
a que retiraram
uma forma,
e, juntos,
estamos completos como um só rio,
como um só areal.
Pablo Neruda
Há em todo o teu corpo
uma taça ou doçura a mim destinada.
Quando levanto a mão
encontro em cada lugar uma pomba
que andava à minha procura, como
se te houvessem, meu amor, feito de argila
para as minhas mãos de oleiro.
Os teus joelhos, os teus seios,
a tua cintura,
faltam em mim como no côncavo
duma terra sedenta
a que retiraram
uma forma,
e, juntos,
estamos completos como um só rio,
como um só areal.
Pablo Neruda
viajando... com os pés em terra húmida e as mãos ao longo da tua pele
A PERGUNTA
Amor, uma pergunta minha
dilacerou-te.
Regressei a ti
da incerteza com espinhos.
Quero-te direita como
a espada ou o caminho.
Mas tu insistes
em manter uma curva
de sombra de que não gosto.
Meu amor,
compreende-me,
quero tudo o que é teu,
dos olhos aos pés, às unhas,
por dentro,
toda a claridade, que escondias.
Sou eu, meu amor,
quem bate à tua porta.
Não é um fantasma, não é
o que um dia parou
à tua janela.
Eu deito a porta abaixo:
eu entro na tua vida:
venho viver na tua alma:
tu não podes comigo.
Tens que abrir todas as portas,
tens que obedecer-me,
tens que abrir os olhos
para eu os observar,
tens que ver como ando
com passos pesados
por todos os caminhos
que, cegos, me esperavam.
Não tenhas medo,
sou teu,
mas
não sou viajante nem mendigo,
sou o teu senhor,
aquele que esperavas,
e agora entro
na tua vida
para não mais sair,
amor, amor, amor,
para ficar.
Pablo Neruda
Amor, uma pergunta minha
dilacerou-te.
Regressei a ti
da incerteza com espinhos.
Quero-te direita como
a espada ou o caminho.
Mas tu insistes
em manter uma curva
de sombra de que não gosto.
Meu amor,
compreende-me,
quero tudo o que é teu,
dos olhos aos pés, às unhas,
por dentro,
toda a claridade, que escondias.
Sou eu, meu amor,
quem bate à tua porta.
Não é um fantasma, não é
o que um dia parou
à tua janela.
Eu deito a porta abaixo:
eu entro na tua vida:
venho viver na tua alma:
tu não podes comigo.
Tens que abrir todas as portas,
tens que obedecer-me,
tens que abrir os olhos
para eu os observar,
tens que ver como ando
com passos pesados
por todos os caminhos
que, cegos, me esperavam.
Não tenhas medo,
sou teu,
mas
não sou viajante nem mendigo,
sou o teu senhor,
aquele que esperavas,
e agora entro
na tua vida
para não mais sair,
amor, amor, amor,
para ficar.
Pablo Neruda
os versos do capitão... que privilégio ler-te e sonhar no itinerário das tuas viagens
EM TI A TERRA
Pequena
rosa,
rosa pequena,
às vezes,
diminuta e nua,
parece
que numa das minhas mãos
tu cabes,
que assim vou apertar-te
e levar-te à boca,
mas,
de repente,
os meus pés tocam os teus pés e a minha boca os teus
lábios,
cresceste,
os teus ombros erguem-se como duas colinas,
os teus peitos passeiam pelo meu peito,
o meu braço mal consegue cingir a delgada
linha de lua nova que há na tua cintura:
derramaste-te no amor como água do mar:
meço apenas os olhos mais dilatados do céu
e inclino-me sobre a tua boca para beijar a terra.
Pablo Neruda
Pequena
rosa,
rosa pequena,
às vezes,
diminuta e nua,
parece
que numa das minhas mãos
tu cabes,
que assim vou apertar-te
e levar-te à boca,
mas,
de repente,
os meus pés tocam os teus pés e a minha boca os teus
lábios,
cresceste,
os teus ombros erguem-se como duas colinas,
os teus peitos passeiam pelo meu peito,
o meu braço mal consegue cingir a delgada
linha de lua nova que há na tua cintura:
derramaste-te no amor como água do mar:
meço apenas os olhos mais dilatados do céu
e inclino-me sobre a tua boca para beijar a terra.
Pablo Neruda
ternura de posse
POSSE
A noite é a noite e tu a dás
_ sigo a rota íntima dos cabelos.
Macio o cais. Insone o mundo
em que se dá aos lábios o querer tê-los.
Rosada a curva que enobrece a espuma,
no gesto violento que a nada se poupa.
Leitosa a sombra que nos tem seguros
a cama, o corpo, o símbolo, a roupa.
Língua de fogo que ao sangue reclama
mais lume, mais sal (que o céu o não dá).
Ternura de posse _ de cor e tamanho.
O grito é o fim, um sol que aí está.
João Rui de Sousa
A noite é a noite e tu a dás
_ sigo a rota íntima dos cabelos.
Macio o cais. Insone o mundo
em que se dá aos lábios o querer tê-los.
Rosada a curva que enobrece a espuma,
no gesto violento que a nada se poupa.
Leitosa a sombra que nos tem seguros
a cama, o corpo, o símbolo, a roupa.
Língua de fogo que ao sangue reclama
mais lume, mais sal (que o céu o não dá).
Ternura de posse _ de cor e tamanho.
O grito é o fim, um sol que aí está.
João Rui de Sousa
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
inigualável... o programa "a poesia está na rua" da responsabilidade da câmara municipal de santo tirso
A INIGUALÁVEL
Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de cetim...
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas...
E tão febril e delicada
Que não pudesses dar um passo _
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de cor no regaço...
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas _
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...
Ah! que as tuas nostalgias fossem guizos de prata _
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata...
.......................................................
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim _
Os teus espasmos, de seda...
_ Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor po mim...
Mário de Sá-Carneiro
Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de cetim...
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas...
E tão febril e delicada
Que não pudesses dar um passo _
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de cor no regaço...
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas _
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...
Ah! que as tuas nostalgias fossem guizos de prata _
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata...
.......................................................
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim _
Os teus espasmos, de seda...
_ Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor po mim...
Mário de Sá-Carneiro
"ofícios de poeta" teve o privilégio de receber o poeta António Osório e ao mesmo prestar a devida e merecida homenagem. é um cavalheiro e um homem de grande sensibilidade. volte sempre...
DOÍA-LHE O CORPO, LANCEADA
Doía-lhe o corpo, lanceada.
Aquele sangue
do sacrifício escorrente.
Era assim: gruta aquosa,
carnais estalactites,
uma vibrátil glande,
assetinado, fundo
pocinho que transbordava
ôndulas de volúpia,
onda marinheira
na saca e ressaca;
nele, espasmos,
um moribundo imitante.
Despojada de sua dívida,
o mundo e eles, gratos.
António Osório
Doía-lhe o corpo, lanceada.
Aquele sangue
do sacrifício escorrente.
Era assim: gruta aquosa,
carnais estalactites,
uma vibrátil glande,
assetinado, fundo
pocinho que transbordava
ôndulas de volúpia,
onda marinheira
na saca e ressaca;
nele, espasmos,
um moribundo imitante.
Despojada de sua dívida,
o mundo e eles, gratos.
António Osório
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
por que "gostar" faz bem... nove semanas e meia, também gosta!
CÉUS EM FOGO
Um corpo, certamente. Mas que é um corpo?
Boca, seios, coxas, sexo,
um sorriso, a mão que afaga, voz?
Que trevas, quais trevas,
de esquecer ou ir tão fundo
quando o desprender-se da alma abre
nas portas da luxúria os céus em fogo?
Adolfo Casais Monteiro
Um corpo, certamente. Mas que é um corpo?
Boca, seios, coxas, sexo,
um sorriso, a mão que afaga, voz?
Que trevas, quais trevas,
de esquecer ou ir tão fundo
quando o desprender-se da alma abre
nas portas da luxúria os céus em fogo?
Adolfo Casais Monteiro
"nove semanas e meia" abre espaço para a participação. envie poemas de autores que escrevem o "amor e a paixão". entretanto...
VÉSPERA
Seríamos dois faunos sobre a praia,
Batidos pelo vento e pelo sal,
Tendo por manto apenas a cambraia
da espuma
E, por fronteira,
O areal.
Gémeos de corpo e alma,
Ver um era ver outro:
A mesma voz,
A mesma transparência,
A mesma calma
De búzio, intacto, em cada um de nós!
Felicidade?
Não!
Inconsciência!
E as nossas mãos brincavam com o lume
A beira da impaciência
Ou do ciúme.
Pedro Homem de Mello
Seríamos dois faunos sobre a praia,
Batidos pelo vento e pelo sal,
Tendo por manto apenas a cambraia
da espuma
E, por fronteira,
O areal.
Gémeos de corpo e alma,
Ver um era ver outro:
A mesma voz,
A mesma transparência,
A mesma calma
De búzio, intacto, em cada um de nós!
Felicidade?
Não!
Inconsciência!
E as nossas mãos brincavam com o lume
A beira da impaciência
Ou do ciúme.
Pedro Homem de Mello
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
sóbrio o teu corpo me pede...
SÓBRIO O TEU CORPO...
Sóbrio o teu corpo me pede
penetração: nomes puros:
os de boca, braços, mãos
sobre a terra e sobre os muros.
Sóbrio o teu corpo me pede
nomes justos, nomes duros:
os de terra, fogo e punhos,
claros, acres, escuros.
António Ramos Rosa
Sóbrio o teu corpo me pede
penetração: nomes puros:
os de boca, braços, mãos
sobre a terra e sobre os muros.
Sóbrio o teu corpo me pede
nomes justos, nomes duros:
os de terra, fogo e punhos,
claros, acres, escuros.
António Ramos Rosa
ó fome, quando é que eu como?
POESIA
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.
Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?
Fernando Pessoa
>>> trazido pelas mãos do comissário do programa, chegou-nos "eros de passagem" poesia erótica contemporânea - selecção e prefácio de Eugénio de Andrade com desenhos do Mestre José Rodrigues. sabemos, pela voz do próprio, que é uma edição muito especial - a capa já se encontra amarelecida e o cheiro (quando se abre e se folheia) denúncia os 20 anos que já possui. vamos tratar e falar dele (o livro) com apetite. sim! não é comida, mas desencadeia a vontade de satisfazer a "gula do corpo" (saboreando cada pedaço de pele)...
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem
(Se ela estivesse deitada)
dois montinhos que amanhecem
Sem ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.
Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?
Fernando Pessoa
>>> trazido pelas mãos do comissário do programa, chegou-nos "eros de passagem" poesia erótica contemporânea - selecção e prefácio de Eugénio de Andrade com desenhos do Mestre José Rodrigues. sabemos, pela voz do próprio, que é uma edição muito especial - a capa já se encontra amarelecida e o cheiro (quando se abre e se folheia) denúncia os 20 anos que já possui. vamos tratar e falar dele (o livro) com apetite. sim! não é comida, mas desencadeia a vontade de satisfazer a "gula do corpo" (saboreando cada pedaço de pele)...
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
um dia "a poesia está na rua" vai deixar a rua e entrar pela porta do sol - amanhã é o dia...
>>>>>>>>>>>>>>>>> até amanhã!
poderia ser uma "conversa"...
VOLÚPIA
No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
_ Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arrabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
Florbela Espanca
SONETO DE AMOR
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., _ unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... _ abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio
No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
_ Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!
Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
E do meu corpo os leves arrabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...
Florbela Espanca
SONETO DE AMOR
Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua..., _ unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.
Depois... _ abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!
José Régio
a viagem mais íntima
Uma ave alucinada
nasce debaixo de mim
As pontas de suas asas
sobre meus ombros se fincam
enquanto o ventre já parte
para a viagem mais íntima
Negros lenços se desfazem
Túnicas brancas se pisam
Nesta abóbada encarnada
a saliva sabe a sangue
Gemendo moves as asas
Mas sou eu quem vai voando
David MF
nasce debaixo de mim
As pontas de suas asas
sobre meus ombros se fincam
enquanto o ventre já parte
para a viagem mais íntima
Negros lenços se desfazem
Túnicas brancas se pisam
Nesta abóbada encarnada
a saliva sabe a sangue
Gemendo moves as asas
Mas sou eu quem vai voando
David MF
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
...o segredo que o teu corpo segregra
SEGREDO
Nem o Tempo tem tempo
para sondar as trevas
deste rio correndo
entre a pele e a pele
Nem o Tempo tem tempo
nem as trevas dão tréguas
Não descubro o segredo
que o teu corpo segregra
David MF
Nem o Tempo tem tempo
para sondar as trevas
deste rio correndo
entre a pele e a pele
Nem o Tempo tem tempo
nem as trevas dão tréguas
Não descubro o segredo
que o teu corpo segregra
David MF
...rei me coroo em tuas coxas
É nesse ponto
de tuas coxas
que o meu pescoço
implora a forca
Mas dás-lhe o trono
da luz da sombra
num sorvedouro
de rosas roxas
Agreste gosto
de húmida polpa
o que dissolvo
dentro da boca
Eis num renovo
mágica força
Rei me coroo
em tuas coxas
David MF
de tuas coxas
que o meu pescoço
implora a forca
Mas dás-lhe o trono
da luz da sombra
num sorvedouro
de rosas roxas
Agreste gosto
de húmida polpa
o que dissolvo
dentro da boca
Eis num renovo
mágica força
Rei me coroo
em tuas coxas
David MF
assim que te despes...
Assim que te despes
as próprias cortinas
ficam boquiabertas
ante a luz do dia
Os teus olhos pedem
mas a boca exige
que te inunde as pernas
toda a luz do dia
Até o teu sexo
que negro cintila
mais e mais desperta
para a luz do dia
E a noite percebe
ao ver-te despida
o grande mistério
que há luz na luz do dia
David MF
as próprias cortinas
ficam boquiabertas
ante a luz do dia
Os teus olhos pedem
mas a boca exige
que te inunde as pernas
toda a luz do dia
Até o teu sexo
que negro cintila
mais e mais desperta
para a luz do dia
E a noite percebe
ao ver-te despida
o grande mistério
que há luz na luz do dia
David MF
...de um rio confuso
MOMENTO
Chegado o momento
em que tudo é tudo
de teus pés ao ventre
das ancas à nuca
ouve-se a torrente
de um rio confuso
Levanta-se o vento
Comparece a Lua
Entre línguas e dentes
este Sol nocturno
Nos teus quatro membros
de curvos arbustos
lavra um só incêndio
que se torna muitos
Candente silêncio
sob o que murmuras
Por fora por dentro
do bosque do púbis
crepitam-me os dedos
tocando alaúde
nas cordas dos nervos
a que reduzes
Assim o momento
em que tudo é tudo
Mais concretamente
água fogo música
David MF
>>>> "nas cordas dos nervos" andam tantos; com razão ou sem ela, apela-se à emoção para ultrapassar os momentos em que a agitação provoca alguma turbação e quiça, perturbação...
Chegado o momento
em que tudo é tudo
de teus pés ao ventre
das ancas à nuca
ouve-se a torrente
de um rio confuso
Levanta-se o vento
Comparece a Lua
Entre línguas e dentes
este Sol nocturno
Nos teus quatro membros
de curvos arbustos
lavra um só incêndio
que se torna muitos
Candente silêncio
sob o que murmuras
Por fora por dentro
do bosque do púbis
crepitam-me os dedos
tocando alaúde
nas cordas dos nervos
a que reduzes
Assim o momento
em que tudo é tudo
Mais concretamente
água fogo música
David MF
>>>> "nas cordas dos nervos" andam tantos; com razão ou sem ela, apela-se à emoção para ultrapassar os momentos em que a agitação provoca alguma turbação e quiça, perturbação...
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