AUSÊNCIA
Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
por isso, de deixar alguns sinais _ um peso
nos olhos, no lugar da tua imagem, e
um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
tivessem roubado o tacto. São estas as formas
do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
as coisas simples também podem ser
complicadas, quando nos damos conta da
diferença entre o sonho e a realidade. Porém,
é o sonho que me traz a tua memória; e a
realidade aproxima-te de ti, agora que
os dias correm mais depressa, as palavras
ficam presas numa refracção de instantes,
quando a tua voz me chama de dentro de
mim _ e me faz responder-te uma coisa simples,
como dizer que a tua ausência me dói.
Nuno Júdice
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
escuto o silêncio das palavras
O AMOR, DIZES-ME
Escuto o silêncio das palavras. O seu silêncio
suspenso dos gestos com que elas desenham
cada objecto, cada pessoa, ou as próprias ideias
que delas dependem. Por vezes, porém, as
palavras são o próprio silêncio. Nascem
de uma espera, de um instante de atenção, da
súbita fixidez dos olhos amados, como se
também houvesse coisas que não precisam de
palavras para existir. É o caso deste sentimento
que nasce entre um e outro ser, que apenas
se adivinha enquanto todos falam, em volta,
e que de súbito se confessa, traduzindo em
breves palavras a sua silenciosa verdade.
>>>> ainda "na sombra" quanto ao tema desta edição, continuamos a deixar pistas e "in"suspeitas deixas quanto ao mesmo. enquanto não se vê claramente os contornos da "nossa rua", sugere-se a viagem pela poesia do "amor" - o calendário dos dias indica que o dia 14 de fevereiro, é dos enamorados. "a poesia está na rua" vai deixar "rumores" desses amores por estas bandas. aproveitem, os enamorados e os que estão em vias de ficarem...
Escuto o silêncio das palavras. O seu silêncio
suspenso dos gestos com que elas desenham
cada objecto, cada pessoa, ou as próprias ideias
que delas dependem. Por vezes, porém, as
palavras são o próprio silêncio. Nascem
de uma espera, de um instante de atenção, da
súbita fixidez dos olhos amados, como se
também houvesse coisas que não precisam de
palavras para existir. É o caso deste sentimento
que nasce entre um e outro ser, que apenas
se adivinha enquanto todos falam, em volta,
e que de súbito se confessa, traduzindo em
breves palavras a sua silenciosa verdade.
>>>> ainda "na sombra" quanto ao tema desta edição, continuamos a deixar pistas e "in"suspeitas deixas quanto ao mesmo. enquanto não se vê claramente os contornos da "nossa rua", sugere-se a viagem pela poesia do "amor" - o calendário dos dias indica que o dia 14 de fevereiro, é dos enamorados. "a poesia está na rua" vai deixar "rumores" desses amores por estas bandas. aproveitem, os enamorados e os que estão em vias de ficarem...
...puxo o teu corpo
ATÉ AO FIM
Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.
Nuno Júdice
Mas é assim o poema: construído devagar,
palavra a palavra, e mesmo verso a verso,
até ao fim. O que não sei é
como acabá-lo; ou, até, se
o poema quer acabar. Então, peço-te ajuda:
puxo o teu corpo
para o meio dele, deito-o na cama
da estrofe, dispo-o de frases
e de adjectivos até te ver,
tu,
o mais nu dos pronomes. Ficamos
assim. Para trás, palavras e versos,
e tudo o que
não é preciso dizer:
eu e tu, chamando o amor
para que o poema acabe.
Nuno Júdice
amo-te
RETRATO
Amo-te; e o teu corpo dobra-se,
no espelho da memória, à luz
frouxa da lâmpada que nos
esconde. Puxo-te para fora
da moldura: o teu rosto branco
abre um sorriso de água, e
cais sobre mim, como o
tronco suave da noite, para
que te abrace até de madrugada,
quando o sono te fecha os olhos
e o espelho, vazio, me obriga
a olhar-te no reflexo do poema.
Nuno Júdice
Amo-te; e o teu corpo dobra-se,
no espelho da memória, à luz
frouxa da lâmpada que nos
esconde. Puxo-te para fora
da moldura: o teu rosto branco
abre um sorriso de água, e
cais sobre mim, como o
tronco suave da noite, para
que te abrace até de madrugada,
quando o sono te fecha os olhos
e o espelho, vazio, me obriga
a olhar-te no reflexo do poema.
Nuno Júdice
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
«...cacho de curvas...»
INSCRIÇÃO ESTIVAL
Ó grande plenitude!
E a tudo,
a tudo alheio,
saboreio.
Absorto
sorvo
este cacho de curvas
tão maduras...
Este cacho de curvas que é o teu corpo!
David MF
Ó grande plenitude!
E a tudo,
a tudo alheio,
saboreio.
Absorto
sorvo
este cacho de curvas
tão maduras...
Este cacho de curvas que é o teu corpo!
David MF
...um poema líquido
VOTO
Que o fosso da memória se transponha,
que seja a solidão atravessada!
Da cálida crisálida renasça
de novo para o corpo o corpo todo!
Venham as roucas sílabas da posse
no búzio dos ouvidos enroladas!
Sobre a teia das veias implapáveis,
reconstrua-se a cúpula dos olhos!
Que tudo agora súbito se emprenhe
da realidade que a lembrança apenas
em folha de álbum, ressequida, guarda!
Que eu vá de novo decorar-te a seiva,
como um poema líquido que seja
urgente recitar na eternidade!
David MF
Que o fosso da memória se transponha,
que seja a solidão atravessada!
Da cálida crisálida renasça
de novo para o corpo o corpo todo!
Venham as roucas sílabas da posse
no búzio dos ouvidos enroladas!
Sobre a teia das veias implapáveis,
reconstrua-se a cúpula dos olhos!
Que tudo agora súbito se emprenhe
da realidade que a lembrança apenas
em folha de álbum, ressequida, guarda!
Que eu vá de novo decorar-te a seiva,
como um poema líquido que seja
urgente recitar na eternidade!
David MF
...não é possível escapar ao vício da leitura, e, muito menos quando se trata de David Mourão-Ferreira
SONETO DOS QUARTOS DE ALUGUER
O amor é só de quem os olhos cerra
no desalmado instante da entrega.
Cerrai-vos, olhos meus, antes que cega
vos cegue a lucidez que nos faz guerra.
Cerrai-vos, olhos meus, que os indiscretos
são punidos com leis muito severas.
Cerrados, sentireis... que primaveras!
Abertos, que vereis senão objectos?
E que abjectos objectos! tão prosaicos!:
tapetes de aluguar com flor´s manchadas;
entre os pés do biombo, continuadas
as tábuas do soalho por mosaicos...
...Sempre esse frio sórdido, a seguir
ao fogo em que nos qu´remos consumir!
O amor é só de quem os olhos cerra
no desalmado instante da entrega.
Cerrai-vos, olhos meus, antes que cega
vos cegue a lucidez que nos faz guerra.
Cerrai-vos, olhos meus, que os indiscretos
são punidos com leis muito severas.
Cerrados, sentireis... que primaveras!
Abertos, que vereis senão objectos?
E que abjectos objectos! tão prosaicos!:
tapetes de aluguar com flor´s manchadas;
entre os pés do biombo, continuadas
as tábuas do soalho por mosaicos...
...Sempre esse frio sórdido, a seguir
ao fogo em que nos qu´remos consumir!
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
o programa "a poesia está na rua" está animado. recebeu das mãos da CM «música de cama» de David Mourão-Ferreira. malta, devem preparar o vosso canto...
MINUTO
O amor? Seria o fruto
trincado até mais não ser?
(Mas para lá do prazer
a Vida estava de luto...)
Fui plantar o coração
no infinito: uma flor...
(Mas para lá do fervor
a vida gritou que não!)
O amor? Nem flor nem fruto.
(Tudo quanto em nós vibrara
parecia pronto a ceder...)
Foi apenas um minuto:
a fome intensa, tão rara!,
de ser criança, ou morrer...
>>> obrigado MC
O amor? Seria o fruto
trincado até mais não ser?
(Mas para lá do prazer
a Vida estava de luto...)
Fui plantar o coração
no infinito: uma flor...
(Mas para lá do fervor
a vida gritou que não!)
O amor? Nem flor nem fruto.
(Tudo quanto em nós vibrara
parecia pronto a ceder...)
Foi apenas um minuto:
a fome intensa, tão rara!,
de ser criança, ou morrer...
>>> obrigado MC
...o que está vago?
VAGAR
Dobro a esquina
do abraço
a lume posto
Doce de amora
de ponto
desatado
Dispo o vestido
no vagar do corpo
preencho de prazer o que está vago
>>> talvez "a poesia está na rua" deva fazer a revelação do nome do autor destes textos. talvez o autor não aprecie, tanto anonimato e secretismo em volta da sua poesia. por outro lado, a não revelação do nome, permite viajar "por todos os nomes" cuja escrita possua «corpos com asas e seiva de paixão»
Dobro a esquina
do abraço
a lume posto
Doce de amora
de ponto
desatado
Dispo o vestido
no vagar do corpo
preencho de prazer o que está vago
>>> talvez "a poesia está na rua" deva fazer a revelação do nome do autor destes textos. talvez o autor não aprecie, tanto anonimato e secretismo em volta da sua poesia. por outro lado, a não revelação do nome, permite viajar "por todos os nomes" cuja escrita possua «corpos com asas e seiva de paixão»
convoco para a poesia...
OS NOSSOS DIAS
Convoco-te
Contorno-te
Comovo-me
Com o teu corpo
delgado
na memória
As tuas ancas estreitas
nesta nossa história
Os teus pulsos morenos
com sabor a vitória
Convoco-te
Contorno-te
Comovo-me
Com o teu corpo
delgado
na memória
As tuas ancas estreitas
nesta nossa história
Os teus pulsos morenos
com sabor a vitória
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
não é sempre mas, pode ser...
E POR VEZES
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos ocanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão Ferreira
Matura Idade 1973
Antologia Poética
Publicações D. Quixote, 1983
a poesia está na rua oferece uma
camélia branca à CM
em troca deste poema. Obrigado...
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos ocanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão Ferreira
Matura Idade 1973
Antologia Poética
Publicações D. Quixote, 1983
a poesia está na rua oferece uma
camélia branca à CM
em troca deste poema. Obrigado...
a flor eleita da poesia - a camélia
(...)
teria sido tão fácil isto
digo eu agora
tudo estava preparado para a tua chegada
o café os discos os livros as camélias
que me deste na manhã dos meus vinte anos
o vão de escada onde me pediste fica
mas isso aconteceu há muito tempo
quando ainda havia sebes e laranjeiras bravas
e o jardim não se tinha transformado
em condomínio privado com guardas
no exacto local onde um dia desdobrámos o corpo
para o primeiro conhecimento do amor
isso aconteceu quando ainda mal sabíamos
desprender da boca as palavras necessárias
por isso não percebi que seria na cinza desses dias
que viria reclamar a tua vida
a minha única maneira de desenhar por ti
a eternidade
(...)
Dois Corpos Tombando na Água
Alice Vieira
teria sido tão fácil isto
digo eu agora
tudo estava preparado para a tua chegada
o café os discos os livros as camélias
que me deste na manhã dos meus vinte anos
o vão de escada onde me pediste fica
mas isso aconteceu há muito tempo
quando ainda havia sebes e laranjeiras bravas
e o jardim não se tinha transformado
em condomínio privado com guardas
no exacto local onde um dia desdobrámos o corpo
para o primeiro conhecimento do amor
isso aconteceu quando ainda mal sabíamos
desprender da boca as palavras necessárias
por isso não percebi que seria na cinza desses dias
que viria reclamar a tua vida
a minha única maneira de desenhar por ti
a eternidade
(...)
Dois Corpos Tombando na Água
Alice Vieira
sem mapa e sem sinais... a viagem
CORPO
É pêssego
Tangerina
E é limão
Tem sabor a damasco
e a alperce
Toma o gosto da canela
de manhã
e à noite a framboesa que se despe
Da maçã guarda o pecado
e a sedução
Do mel
o açucar que reveste
Do licor
a febre que no seu rasgão
me invade, me inunda e me apetece
Mergulho depressa a minha boca
e bebo a sede
que em mim já cresce
Delírio que me enche
de prazer
tomando ponto num lume que humedece
Devagar mexo sem tino
as minhas mãos
Provando de ti
o que de ti viesse
O anis do esperma
o doce odor do pão
que o teu corpo espalha e enlouquece
>>> brevemente será feita a revelação...
É pêssego
Tangerina
E é limão
Tem sabor a damasco
e a alperce
Toma o gosto da canela
de manhã
e à noite a framboesa que se despe
Da maçã guarda o pecado
e a sedução
Do mel
o açucar que reveste
Do licor
a febre que no seu rasgão
me invade, me inunda e me apetece
Mergulho depressa a minha boca
e bebo a sede
que em mim já cresce
Delírio que me enche
de prazer
tomando ponto num lume que humedece
Devagar mexo sem tino
as minhas mãos
Provando de ti
o que de ti viesse
O anis do esperma
o doce odor do pão
que o teu corpo espalha e enlouquece
>>> brevemente será feita a revelação...
deitada sobre o luar acordo e sigo viagem por cima de ti...
TURBAÇÃO
Não podendo suster
tanto apetite
tanta vontade de te morder
a boca
Se estás longe procuro
outra maneira
de te tocar e toda a pressa é pouca
Desço os pulsos e afasto
os meus joelhos
Subo os dedos
e toco a minha folha
Entreabro os lábios
e não querendo é já
uma rosa doce
que a minha mão desfolha
>>> mantenho o véu sobre a autoria de tão belos textos
Não podendo suster
tanto apetite
tanta vontade de te morder
a boca
Se estás longe procuro
outra maneira
de te tocar e toda a pressa é pouca
Desço os pulsos e afasto
os meus joelhos
Subo os dedos
e toco a minha folha
Entreabro os lábios
e não querendo é já
uma rosa doce
que a minha mão desfolha
>>> mantenho o véu sobre a autoria de tão belos textos
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
...e mais um para confirmar as suspeitas!
ETERNIDADE
Será a tua cama
a minha cama
aquela onde revolvo
um sono acidentado?
Onde dormes de lado
ou vigias
o modo alheio que a madrugada
abre
Será tua a proposta
deste encontro
ou será meu este amor
que arde?
Uma flor de fogo
que incendeia
a nossa cama antes do fim
da tarde
Se é tua a dúvida
e minha esta certeza
daquilo que despimos
e na cama tarda?
O vestido descendo pelas ancas
sendo
da sede o que segura
e na seda aguarda
Será tua a vitória
e minha esta derrota
de não poder segurar-te
a vida inteira?
Por mais que queira
a eternidade guarda
o tempo que por ela
já se esgueira
>> e a resposta é...
Será a tua cama
a minha cama
aquela onde revolvo
um sono acidentado?
Onde dormes de lado
ou vigias
o modo alheio que a madrugada
abre
Será tua a proposta
deste encontro
ou será meu este amor
que arde?
Uma flor de fogo
que incendeia
a nossa cama antes do fim
da tarde
Se é tua a dúvida
e minha esta certeza
daquilo que despimos
e na cama tarda?
O vestido descendo pelas ancas
sendo
da sede o que segura
e na seda aguarda
Será tua a vitória
e minha esta derrota
de não poder segurar-te
a vida inteira?
Por mais que queira
a eternidade guarda
o tempo que por ela
já se esgueira
>> e a resposta é...
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
aplausos, para a senhora que se segue...
FLOR DA BOCA
És tentação permanente
à minha beira
Beijos rasos
à flor das bocas
Húmidas as duas
e as duas loucas
A do corpo mais que a da face
inteira
Inteiramente tuas
de maneira
que quando a tua língua
se incendeia
pega fogo ao desejo
e logo a chama
galgando em si própria
já se ateia
Trepando devastando
e só no topo
é grito e orgasmo
e é madeira
>>>>> desafio os seguidores deste blog, a adivinharem o nome do(a) autor(a) do texto
És tentação permanente
à minha beira
Beijos rasos
à flor das bocas
Húmidas as duas
e as duas loucas
A do corpo mais que a da face
inteira
Inteiramente tuas
de maneira
que quando a tua língua
se incendeia
pega fogo ao desejo
e logo a chama
galgando em si própria
já se ateia
Trepando devastando
e só no topo
é grito e orgasmo
e é madeira
>>>>> desafio os seguidores deste blog, a adivinharem o nome do(a) autor(a) do texto
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
e outro mais...
TRÊS PEDRAS NA MÃO
Três pedras na mão:
uma branca, uma azul, outra amarela.
As superstições da minha noite branca de centauro
azuis como o cheiro da terra
amarelas como a curva quente do teu ventre,
o silêncio telúrico a penetrar nas veias
no tropel do vento erguendo-se a esperança
mosto do tempo
já noite puída, feculenta
que guardo entre as páginas do breviário
onde registo os perfis minuciosos
do teu frondoso amor.
Três pedras na mão:
uma branca, outra negra, outra vermelha.
Fernando Alves dos Santos
1928.1992
Três pedras na mão:
uma branca, uma azul, outra amarela.
As superstições da minha noite branca de centauro
azuis como o cheiro da terra
amarelas como a curva quente do teu ventre,
o silêncio telúrico a penetrar nas veias
no tropel do vento erguendo-se a esperança
mosto do tempo
já noite puída, feculenta
que guardo entre as páginas do breviário
onde registo os perfis minuciosos
do teu frondoso amor.
Três pedras na mão:
uma branca, outra negra, outra vermelha.
Fernando Alves dos Santos
1928.1992
curioso é o "três..."
TRÊS COISAS
Cansado já de tudo
Cansado de amar
Nada mais tenho que um modo
de existir respirar
Já não sei aonde ir
Nem sei de onde venho
Queimei-me de existir
Cinzas agora tenho
Perdi meu coração
Paguei-o como peça
de fogo enfim carvão
Tornada fumo a cabeça
Persegui como um cego
três coisas sem piedade
respiração e depois
prazer e obscuridade
(poemas mudados para português por Herberto Helder)
Cansado já de tudo
Cansado de amar
Nada mais tenho que um modo
de existir respirar
Já não sei aonde ir
Nem sei de onde venho
Queimei-me de existir
Cinzas agora tenho
Perdi meu coração
Paguei-o como peça
de fogo enfim carvão
Tornada fumo a cabeça
Persegui como um cego
três coisas sem piedade
respiração e depois
prazer e obscuridade
(poemas mudados para português por Herberto Helder)
«/.../ em todas as ruas te encontro /.../»
POEMA
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
Mário Cesariny
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
"in.suspeitas" pistas...
DE TARDE
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
1855.1886
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
1855.1886
não resisto a fazer uso da sugestão de Carlos Bessa... digam quais deitariam!!??
TRÊS DESEJOS
Olhem à vossa volta e
de entre o que mais importa
digam-me
o que deitavam fora?
Carlos Bessa
1967
vamos inverter a tendência do "querer"
vamos...
Olhem à vossa volta e
de entre o que mais importa
digam-me
o que deitavam fora?
Carlos Bessa
1967
vamos inverter a tendência do "querer"
vamos...
mas entretanto...
AS PALAVRAS-OBJECTOS
Estou aqui
no mundo das palavras-objectos
que mudamente me falam
com quem mudamente falo
ao usá-las:
mas que uso fazem elas de mim?
Se bato nelas, elas batem em mim
se estou irritada, ameaçam-me
ameaçam ferir-me
fazer-me tropeçar, cair, soçobrar
Mas se estou calma e confio nelas
então elas confiam em mim:
entregam-se
enchem os meus dias
amparam as minhas noites
ternamente
aconchegam-me em suas estruturas
Mas porquê?
porquê?
para quê?
ANA HATHERLY
1929
O Pavão Negro
Estou aqui
no mundo das palavras-objectos
que mudamente me falam
com quem mudamente falo
ao usá-las:
mas que uso fazem elas de mim?
Se bato nelas, elas batem em mim
se estou irritada, ameaçam-me
ameaçam ferir-me
fazer-me tropeçar, cair, soçobrar
Mas se estou calma e confio nelas
então elas confiam em mim:
entregam-se
enchem os meus dias
amparam as minhas noites
ternamente
aconchegam-me em suas estruturas
Mas porquê?
porquê?
para quê?
ANA HATHERLY
1929
O Pavão Negro
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
mudamos a cor e em breve anunciamos "novas"
deixamos pistas para a notícia que se segue "a designação e o respectivo tema" da edição 2011 do programa "a poesia está na rua".
para breve a possibilidade de ver (aqui) "a nossa memória " - iremos colocar algumas imagens de (extraordinários) momentos.
a poesia está na rua
para breve a possibilidade de ver (aqui) "a nossa memória " - iremos colocar algumas imagens de (extraordinários) momentos.
a poesia está na rua
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
o "caminho" que (já) fizemos...
... enquanto reina a dúvida no ar (originando uma atmosfera de expectativa) sobre o tema do programa "a poesia está na rua" recordamos os temas e os poetas homenageados, das edições anteriores.
1ª edição / 2004
a poesia está na rua
Homenagem a António Ramos Rosa
{.../ Não posso adiar o coração}
2ª edição / 2005
a poesia e o surrealismo
Artur do Cruzeiro Seixas
{Colho uma palavra
há muito abandonada
na areia /...}
3ª edição / 2006
a poesia faz bem à saúde
Manuel António Pina
{... São elas, as tuas palavras, quem diz «eu»;
se tiveres ouvidos suficientemente privados
podes escutar o seu coração
pulsando sob a palavra da tua existência,
entre o para cá de ti e o para lá de ti....}
4ª edição / 2007
fé na poesia
José Tolentino de Mendonça
{... A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta}
5ª edição / 2008
ofício de poeta
António Osório
{Se eu fosse uma coisa, amaria ver-me
como comboio-correio. Longo e nocturno,
...}
6ª edição / 2009
pano pramangas
A. M. Pires Cabral
{... Dizem tudo isso dos ciganos. Eu não sei.
Vejo-os vir dos lados de Grijó
e estão todos de frente para mim
e parecem-me gente - nada mais.}
7ª edição / 2010
humor com humor se paga
Rosa Alice Branco
{Não sei se existo, pelo que há algumas probabilidades de eu pensar, ou não. Mas parece que escrevo. Quando escrevo não penso em nada e, raramente, sei o que vou escrever. Mesmo nestas raras ocasiões nunca me sai aquilo que pensava saber. O meu maior vício é escrever tudo o que venha, ou não, a gostar de ter escrito. /...}
8ª edição / 2011
????? (aguardem... ou tentem adivinhar!!!!)
o comissário do programa "a poesia está na rua" é o Jornalista Alberto Serra (desde a primeira edição)
a poesia está na rua
1ª edição / 2004
a poesia está na rua
Homenagem a António Ramos Rosa
{.../ Não posso adiar o coração}
2ª edição / 2005
a poesia e o surrealismo
Artur do Cruzeiro Seixas
{Colho uma palavra
há muito abandonada
na areia /...}
3ª edição / 2006
a poesia faz bem à saúde
Manuel António Pina
{... São elas, as tuas palavras, quem diz «eu»;
se tiveres ouvidos suficientemente privados
podes escutar o seu coração
pulsando sob a palavra da tua existência,
entre o para cá de ti e o para lá de ti....}
4ª edição / 2007
fé na poesia
José Tolentino de Mendonça
{... A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta}
5ª edição / 2008
ofício de poeta
António Osório
{Se eu fosse uma coisa, amaria ver-me
como comboio-correio. Longo e nocturno,
...}
6ª edição / 2009
pano pramangas
A. M. Pires Cabral
{... Dizem tudo isso dos ciganos. Eu não sei.
Vejo-os vir dos lados de Grijó
e estão todos de frente para mim
e parecem-me gente - nada mais.}
7ª edição / 2010
humor com humor se paga
Rosa Alice Branco
{Não sei se existo, pelo que há algumas probabilidades de eu pensar, ou não. Mas parece que escrevo. Quando escrevo não penso em nada e, raramente, sei o que vou escrever. Mesmo nestas raras ocasiões nunca me sai aquilo que pensava saber. O meu maior vício é escrever tudo o que venha, ou não, a gostar de ter escrito. /...}
8ª edição / 2011
????? (aguardem... ou tentem adivinhar!!!!)
o comissário do programa "a poesia está na rua" é o Jornalista Alberto Serra (desde a primeira edição)
a poesia está na rua
"a poesia está na rua" já evidencia sinais de franca motivação para se expôr aos que estão "ligados" às palavras dos poetas.
o programa e o respectivo tema desta edição, promete trazer à "rua" novos poetas (...estes trarão novas leituras e outras tantas formas de os ler/dizer).
muito em breve haverá a revelação do calendário dos acontecimentos e os convocados (todas e todos os que não abdicam de estar) podem reservar (na agenda dos dias) a "cadeira ou o canto"...
é nesta "rua" que o encontro acontece...!
a poesia esta na rua
o programa e o respectivo tema desta edição, promete trazer à "rua" novos poetas (...estes trarão novas leituras e outras tantas formas de os ler/dizer).
muito em breve haverá a revelação do calendário dos acontecimentos e os convocados (todas e todos os que não abdicam de estar) podem reservar (na agenda dos dias) a "cadeira ou o canto"...
é nesta "rua" que o encontro acontece...!
a poesia esta na rua
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