quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

...da fé..da têxtil...dos ofícios

Deixamos, para sempre, alguma poesia pelos caminhos
… da fé
… da têxtil
… dos ofícios
… vamos avançar em direcção a outro caminho. Vamos dar umas quantas gargalhadas enquanto curvamos e contra-curvamos na sinalética e na métrica poética de alguns!

3 comentários:

  1. ...é preciso querer deixar que os "outros" através da "palavra" nos conduzam até aos lugares inacessíveis para a maioria de nós.
    ...é preciso que o tropeço ocorra para na queda sentir o corpo (a doer).
    ...é preciso rir mesmo que à alma apeteça permanecer calada.
    ...bem haja a poesia e os que a amam!
    parabéns santo tirso

    ResponderEliminar
  2. Presto neste “lugar de todos” (os que assim o desejarem e assumirem) o reconhecimento pessoal a uma poetisa cuja obra me proporcionou e proporciona, um passeio na maior avenida do universo (das conhecidas e intuidas). Refiro-me naturalmente à poesia de “tantos nomes” e da poetisa Florbela Espanca (Florbela de Alma da Conceição Espanca), em particular. Recebi em jeito de empréstimo o Livro SONETOS da europa-américa – ib284 livros de bolso ... e o passeio pela “avenida” teve início!
    Ouso partilhar dois...
    PASSEIO AO CAMPO
    Meu Amor! Meu Amante! Meu Amigo!
    Colhe a hora que passa, hora divina,
    Bebe-a dentro de mim, bebe-a comigo!
    Sinto-me alegre e forte! Sou menina!

    Eu tenho, Amor, a cinta esbelta e fina ...
    Pele dourada de alabastro antigo ...
    Frágeis mãos de madona florentina ...
    - Vamos correr e rir por entre o trigo!

    Há rendas de gramíneas pelos montes ...
    Papoilas rubras nos trigais maduros ...
    Água azulada a cintilar nas fontes ...

    E à volta, Amor ... tornemos, nas alfombras
    Dos caminhos selvagens e escuros,
    Num astro só as nossas duas sombras ...


    SE TU VIESSES VER-ME ...
    Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
    A essa hora dos mágicos cansaços,
    Quando a noite de manso se avizinha,
    E me prendesses toda nos teus braços ...

    Quando me lembra: esse sabor que tinha
    A tua boca ... o eco dos teus passos ...
    O teu riso de fonte ... os teus braços ...
    Os teus beijos ... a tua mão na minha ...

    Se tu viesses quando, linda e louca,
    Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
    E é de seda vermelha e canta e ri

    E é como um cravo ao sol a minha boca ...
    Quando os olhos se me cerram de desejo ...
    E os meus braços se estendem para ti ...

    ... indo de nome em nome (com a euforia típica de quem passeia pela primeira vez) dei de caras com uma Antologia. Antologia do Humor Português da dupla Nuno Artur Silva & Inês Fonseca Santos.
    Não abandonando a minha “avenida” mas gozando uma larga rua “a poesia está na rua” – programa da responsabilidade de uma autarquia – CMSANTO TIRSO a quem felicito, assumo a liberdade de deixar um pequeno aperitivo para o que vai, certamente, oferecer o “humor com humor se paga”.




    MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA
    RIFÃO QUOTIDIANO
    Uma nêspera
    estava na cama
    deitada
    muito calada
    a ver
    o que contecia

    chegou a Velha
    e disse
    olha uma nêspera
    e zás comeu-a

    é o que acontece
    às nêsperas
    que ficam deitadas
    caladas
    a esperar
    o que acontece


    TELEFONEMA
    Telefonaram-lhe para casa e perguntaram-lhe se estava em casa.
    Foi então que deu pelo facto. Realmente tinha morrido havia já dezassete dias.
    Por vezes as perguntas estúpidas são de extrema utilidade.


    Natália Correia
    SONETO AO DEPUTADO MORGADO

    Já que o coito – diz Morgado –
    Tem como fim cristalino,
    Preciso e imaculado
    Fazer menina ou menino;
    E cada vez que o varão
    Sexual petisco manduca,
    Temos na procriação
    Prova de que houve truca-truca.
    Sendo pai só de um rebento,
    Lógica é a conclusão
    De que o viril instrumento
    Só usou –parca ração! –
    Uma vez. E se a função
    Faz o orgão – diz o ditado –
    Consumada essa excepção,
    Ficou capado o Morgado.


    e por hoje, malta, é tudo... vou dormir pois o riso faz bem mas o sono também!

    xxx

    ResponderEliminar
  3. Natália Correia
    SONETO AO DEPUTADO MORGADO

    Já que o coito – diz Morgado –
    Tem como fim cristalino,
    Preciso e imaculado
    Fazer menina ou menino;
    E cada vez que o varão
    Sexual petisco manduca,
    Temos na procriação
    Prova de que houve truca-truca.
    Sendo pai só de um rebento,
    Lógica é a conclusão
    De que o viril instrumento
    Só usou –parca ração! –
    Uma vez. E se a função
    Faz o orgão – diz o ditado –
    Consumada essa excepção,
    Ficou capado o Morgado.

    Alberto Pimenta
    EMBUTIDO

    numa sexta-feira treze ao meditar no
    IRREMEDIÁVEL EMPOBRECIMENTO da poesia
    caiu-me a alma aos pé. no sábado cat
    orze foi chamado o médico. o médico de
    clarou que eu precisava de uma alma
    nova. o domingo não é dia de pôr almas
    novas. na segunda dezasseis o médico
    montou-me a alma nova. e declarou que
    a partir de então eu deixava de me
    chamar Tibaldo como até então o que ve
    io criar a grande incertidão da minha
    certidão que ainda hoje subsiste entre
    os conservadores da minha identidade

    é imperioso
    que as estradas
    se ajustem aos eleitores
    mas também é importante
    que estes
    se ajustem às estradas
    tanto
    na sua condição de eleitores
    como na de condutores

    as estradas
    por mais vasto que seja
    o esforço orçamental
    por mais que se construam
    nunca serão tantas
    como os eleitores
    e até como os condutores

    como porém são maiores
    cabem nelas
    se não todos
    pelo menos a esmagadora
    maioria dos eleitores
    e, com mais razão,
    dos condutores
    (inclusive os estrangeiros que nos visitam),
    o que se deve
    à firmeza da orientação do governo

    e
    assim
    temos a nação a andar sobre rodas.
    o mais que isto
    é metafísica
    e não interessa ao cidadão comum,
    que está devidamente recenseado
    e possui veículo motorizado.

    Manuel António Pina
    O QUE ME VALE

    O que me vale aos fins de semana
    é o teu amor provinciano e bom
    para ele compro bombons
    para ele compro bananas
    para o teu amor teu amon
    tu tankamon meu amor
    para o teu amor tu me flamas
    tu te frutti tu te inflamas
    oh o teu amor não tem com
    plicações viva aragon
    morram as repartições

    e por hoje, malta, é tudo... vou dormir pois o riso faz bem mas o sono também!

    xxx

    ResponderEliminar