e por falar em "conquista"
CONQUISTA
Vendo todos os meus versos.
«Poeta de compra e venda»
Zombam de mim.
Mas os versos
Haverá quem os entenda?
Vendo na rua, ao balcão,
E, às vezes, até na praia!
E o dinheiro que eles dão
Logo, frívolo, desmaia...
Sonham túlipas na jarra
Do quarto onde ambos dormimos.
E a paz - uma paz bizarra!
Põe-nos, nas pálpebras, limos.
E acordo, só, se outra rima
Lembra, de súbito, a feira.
« - Acima, Gageiro, acima!
Vê se vês a Pátria inteira!»
Por fim, bailo. Tão sozinho
Como os Poetas que o são.
E o oiro sabe-me a vinho...
E os versos sabem-me a pão!
in poíésis "60 poemas escolhidos e apresentados por Manuel Alegre e Paulo Sucena de Pedro Homem de Mello
quarta-feira, 2 de maio de 2012
quinta-feira, 26 de abril de 2012
é no próximo domingo e vale bem a deslocação e o tempo que iremos partilhar com a poesia em diferentes sítios...
...é sempre surpreendente e belo! para os habituais, tal afirmação será facilmente compreendida e confirmada, para os estreantes será uma revelação.
...é domingo (dia 29) em são miguel do couto
..é o último evento do "mãos à obra" 2012
...não vamos sentir saudade pois todos os dias criamos e «vemos» poesia...
...2013 vai honrar 2012 e todos os anteriores!
...é a 10ª edição!!!!!!
...é domingo (dia 29) em são miguel do couto
..é o último evento do "mãos à obra" 2012
...não vamos sentir saudade pois todos os dias criamos e «vemos» poesia...
...2013 vai honrar 2012 e todos os anteriores!
...é a 10ª edição!!!!!!
quinta-feira, 19 de abril de 2012
que nada impeça a participação e muito menos o desconhecimento do endereço dos sítios onde se ouvirá e sentirá...poesia
Casa da Galeria
Rua Prof. Augusto Pires de Lima, nºs 33/37
4780.499 Santo Tirso
Traços de Nós - Café
Rua Ferreira de Lemos, nº 571
4780.468 Santo Tirso
os ambientes são confirmadamente os mais poéticos da zona
Rua Prof. Augusto Pires de Lima, nºs 33/37
4780.499 Santo Tirso
Traços de Nós - Café
Rua Ferreira de Lemos, nº 571
4780.468 Santo Tirso
os ambientes são confirmadamente os mais poéticos da zona
quarta-feira, 18 de abril de 2012
apesar do calendário evidenciar abril vou "fazer de conta em dezembro..."
sobre o mês de dezembro
foi há vinte anos, eu estava de cabeça perdida, devia mesmo estar,
há vinte anos, a escrever um poema no dia trinta e um
de dezembro, por causa de uma mulher que amava loucamente,
isto é, que eu julgava amar duma maneira desvairada,
e que ia casar com não sei quem, só sei que não era comigo.
e então pus-me a escrever uma coisa a que chamei o mês de dezembro,
(...)
in O Concerto Campestre
Vasco Graça Moura
este texto continua e o "mãos à obra" também...
ver caixa >>>>>>>>>>>>
foi há vinte anos, eu estava de cabeça perdida, devia mesmo estar,
há vinte anos, a escrever um poema no dia trinta e um
de dezembro, por causa de uma mulher que amava loucamente,
isto é, que eu julgava amar duma maneira desvairada,
e que ia casar com não sei quem, só sei que não era comigo.
e então pus-me a escrever uma coisa a que chamei o mês de dezembro,
(...)
in O Concerto Campestre
Vasco Graça Moura
este texto continua e o "mãos à obra" também...
ver caixa >>>>>>>>>>>>
quinta-feira, 12 de abril de 2012
"mãos à obra" que a vontade é grande... e a poesia reina!
amanhã e depois acontece poesia...
ver programa nas caixas ao lado >>>>>
ver programa nas caixas ao lado >>>>>
terça-feira, 10 de abril de 2012
ainda ecoam os "ecos" de um bom serão.. boa conversa e melhor ainda, muita poesia!
o suporte da música
o suporte da música pode ser a relação
entre um homem e uma mulher, a pauta
dos seus gestos tocando-se, ou dos seus
olhares encontrando-se, ou das suas
vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,
ou dos seus obscuros sinais de entendimento,
crescendo como trapadeiras entre eles.
o suporte da música pode ser uma apetência
dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se
ramifica entre os timbres, os perfumes,
mas é também um ritmo interior, uma parcela
do cosmos, e les sabem-no, perpassando
por uns frágeis momentos, concentrado
num ponto minúsculo, intensamente luminoso,
que a música, desvendando-se, desdobra,
entre conhecimento e cúmplice harmonia.
in Poesia 1997/2000
Vasco Graça Moura
o suporte da música pode ser a relação
entre um homem e uma mulher, a pauta
dos seus gestos tocando-se, ou dos seus
olhares encontrando-se, ou das suas
vogais adivinhando-se abertas e recíprocas,
ou dos seus obscuros sinais de entendimento,
crescendo como trapadeiras entre eles.
o suporte da música pode ser uma apetência
dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se
ramifica entre os timbres, os perfumes,
mas é também um ritmo interior, uma parcela
do cosmos, e les sabem-no, perpassando
por uns frágeis momentos, concentrado
num ponto minúsculo, intensamente luminoso,
que a música, desvendando-se, desdobra,
entre conhecimento e cúmplice harmonia.
in Poesia 1997/2000
Vasco Graça Moura
sábado, 31 de março de 2012
foi ontem mas a atmosfera poética e doce, criada pela voz e pelos textos de Vasco Graça Moura, perdura..
assim foi meus caros bloguistas (que diga-se, em boa verdade, são muito mais do que cinco...)
que orgulho e "vaidade" dizer: ontem foi dia de homenagem!!!! O poeta Vasco Graça Moura disse e disse e voltou a dizer... O homenageado, homenageou as artes lendo alguns dos seus textos! Magnífica a entrega à leitura dos poemas (sem vaidade desmedida mas um imenso orgulho por estar e apresentar, testemunhos da cumplicidade entre a escrita e as outras artes. Magnífico!!! Bem haja pelo extraordinário serão.
Verdadeiro deleite para os leais seguidores do programa "a poesia está na rua" e para os outros, que se estrearam nestas andanças.
Deixo, aqui, um dos textos que ainda paira na atmosfera...
em cada verso insinuo
em cada verso insinuo
um metal, uma rasura,
uma voz, uma figura,
um avanço e um recuo,
um disparo, a ganga impura
de alegria, raiva, amuo,
ou da irónica amargura
de medir a arquitectura
das luas que não possuo,
e a razão, fria impostura
da romântica aventura.
junto o mais que não excluo,
dia a dia, e que perdura
a estalar o que construo.
in Poesia 1997/2000 de Vasco Graça Moura
que orgulho e "vaidade" dizer: ontem foi dia de homenagem!!!! O poeta Vasco Graça Moura disse e disse e voltou a dizer... O homenageado, homenageou as artes lendo alguns dos seus textos! Magnífica a entrega à leitura dos poemas (sem vaidade desmedida mas um imenso orgulho por estar e apresentar, testemunhos da cumplicidade entre a escrita e as outras artes. Magnífico!!! Bem haja pelo extraordinário serão.
Verdadeiro deleite para os leais seguidores do programa "a poesia está na rua" e para os outros, que se estrearam nestas andanças.
Deixo, aqui, um dos textos que ainda paira na atmosfera...
em cada verso insinuo
em cada verso insinuo
um metal, uma rasura,
uma voz, uma figura,
um avanço e um recuo,
um disparo, a ganga impura
de alegria, raiva, amuo,
ou da irónica amargura
de medir a arquitectura
das luas que não possuo,
e a razão, fria impostura
da romântica aventura.
junto o mais que não excluo,
dia a dia, e que perdura
a estalar o que construo.
in Poesia 1997/2000 de Vasco Graça Moura
quinta-feira, 29 de março de 2012
é um "post" a lembrar o evento de amanhã e um encontro com dois poetas de eleição (dizemos nós e dizemos bem...)
O som do silêncio
Devagar, como se tivesse todo o tempo do dia,
descasco a laranja que o sol me pôs pela frente. É
o tempo do silêncio, digo, e ouço as palavras
que saem de dentro dele, e me dizem que
o poema é feito de muitos silêncios,
colados como os gomos da laranja que
descasco. E quando levanto o fruto à altura
dos olhos, e o ponho contra o céu, ouço
os versos soltos de todos os silêncios
entrarem no poema, como se os versos
fossem como os gomos que tirei de dentro
da laranja, deixando-a pronta para o poema
que nasce quando o silêncio sai de dentro dela.
Nuno Júdice
O que diz o rato
Tenho um destino. Nasci
para roer o silêncio - e vou roê-lo
metodicamente
até que um dia se invertam os papéis
e seja o silêncio a roer-me a mim.
A. M. Pires Cabral
nós estamos...
o poeta Vasco Graça Moura também
a poesia iden
e mais ainda... todos os que desejarem passar um bom serão!
quarta-feira, 28 de março de 2012
divagações #01
o "RESUMO a poesia em 2011" livro editado pela FNAC e pela DOCUMENTA e cuja receita reverte totalmente para a AMI / Info Exclusão, apresenta textos do poeta A. M. Pires Cabral (entre outros e outras).
Fazemos referência a esta publicação pelas mais variadas razões.
A saber:
// da seleção (poemas escolhidos) surge o "nosso" poeta homenageado A. M. Pires Cabral (na edição 2009)
// por reunir vários poetas
// pelo preço (acessível)
// pelo destino das receitas
Julgamos serem razões válidas para ir à sua procura...
Aproveitando a "deixa" recordo o nosso quarto (humores) e quinto (beija-me) caderno de poesia, com sessão de apresentação já agendada: dia 21 de abril pelas 17:00h na casa da galeria (próximo da data daremos conta de outras informações complementares)
Fazemos referência a esta publicação pelas mais variadas razões.
A saber:
// da seleção (poemas escolhidos) surge o "nosso" poeta homenageado A. M. Pires Cabral (na edição 2009)
// por reunir vários poetas
// pelo preço (acessível)
// pelo destino das receitas
Julgamos serem razões válidas para ir à sua procura...
Aproveitando a "deixa" recordo o nosso quarto (humores) e quinto (beija-me) caderno de poesia, com sessão de apresentação já agendada: dia 21 de abril pelas 17:00h na casa da galeria (próximo da data daremos conta de outras informações complementares)
hoje às 16H00 no auditório da biblioteca municipal - DOCUMENTÁRIO sobre o escultor e diretor artístico do miec - Alberto Carneiro
entrada livre
entrada livre
entrada livre
entrada livre
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terça-feira, 27 de março de 2012
quisera estar onde não estou... quisera amar e não pude... só a poesia me serve e me cobre de fantasia!!
do poeta que em breve estará em santo tirso e galanteia a edição "mãos à obra"...
XIV. experiência do sono
o mundo envelhecera
e nada era indiferente
agora ou antes.
mas a experiência
pesava-lhes na alma
e tinham sono.
na biblioteca
flutuam folheadas
obscuras aguarelas.
in O Concerto Campestre
Vasco Graça Moura será homenageado pela CMST nesta edição, no próximo dia 30 no salão nobre dos paços do concelho pelas 21H00.
ENTRADA LIVRE
"mãos à obra" é poesia e é desse modo que será recebida/o...
XIV. experiência do sono
o mundo envelhecera
e nada era indiferente
agora ou antes.
mas a experiência
pesava-lhes na alma
e tinham sono.
na biblioteca
flutuam folheadas
obscuras aguarelas.
in O Concerto Campestre
Vasco Graça Moura será homenageado pela CMST nesta edição, no próximo dia 30 no salão nobre dos paços do concelho pelas 21H00.
ENTRADA LIVRE
"mãos à obra" é poesia e é desse modo que será recebida/o...
sexta-feira, 23 de março de 2012
..apetece merendar com as palavras e colher os raios de sol numa manta de cetim
hoje passa o filme...
passa na biblioteca...
o realizador João Botelho está presente...
a escultura de jack varnarsky. o "livro do desassossego" também...
visitem...
assistam ao filme...
e assim se faz...
e assim se pensa...
e assim se diz...
"mãos à obra"
passa na biblioteca...
o realizador João Botelho está presente...
a escultura de jack varnarsky. o "livro do desassossego" também...
visitem...
assistam ao filme...
e assim se faz...
e assim se pensa...
e assim se diz...
"mãos à obra"
quinta-feira, 22 de março de 2012
imagens + palavras = poesia... hoje na biblioteca municipal 21:00h
I. a penumbra das rosas
na biblioteca flutuam as obscuras
zonas de sombra,
a luz morosa das águas
distantes no crepúsculo.
há um vaso de rosas:
as roas são a razão oscilante na penumbra
fluída das páginas.
o saber vai murchar silenciosamente
misturando a cinza desencontrada
de umas coisas e outras.
procuro encontrar um andamento calmo
para falar destas coisas, é quase noite e
a paisagem esfuma-se.
vou-me alheando das horas, das alheias
palavras que esmorecem
in O CONCERTO CAMPESTRE :: vasco graça moura
na biblioteca flutuam as obscuras
zonas de sombra,
a luz morosa das águas
distantes no crepúsculo.
há um vaso de rosas:
as roas são a razão oscilante na penumbra
fluída das páginas.
o saber vai murchar silenciosamente
misturando a cinza desencontrada
de umas coisas e outras.
procuro encontrar um andamento calmo
para falar destas coisas, é quase noite e
a paisagem esfuma-se.
vou-me alheando das horas, das alheias
palavras que esmorecem
in O CONCERTO CAMPESTRE :: vasco graça moura
quarta-feira, 21 de março de 2012
para os poetas... para os que amam a poesia... VIVA
HOJE É O DIA:::!!!!!!!!
de Vasco Graça Moura, o nosso poeta de "mãos à obra"...
X.num parque, à contra-luz
houve pintores do porto
que inventaram assim
para seu uso o porto,
as suas sombras negras e douradas
pertencem-lhes.
eu sei perfeitamente
qual a renda das copas que me interessa,
num parque, à contra-luz,
quais
os reflexos da pedra
e do vidro,
ou o talhe
das cantarias numa fachada,
qual
o baloiçar ronceiro de um carro eléctrico
zumbindo numa subida,
qual
a moldura de uma ponte
a enquadrar a golfada do rio,
qual
o percurso de um passeio
moroso ao escurecer,
mas sei-o como efeito de estilo,
questão de prosa
ou de poesia trabalhada,
de ironia, de uma pobre
ironia biográfica
in O CONCERTO CAMPESTRE
de Vasco Graça Moura, o nosso poeta de "mãos à obra"...
X.num parque, à contra-luz
houve pintores do porto
que inventaram assim
para seu uso o porto,
as suas sombras negras e douradas
pertencem-lhes.
eu sei perfeitamente
qual a renda das copas que me interessa,
num parque, à contra-luz,
quais
os reflexos da pedra
e do vidro,
ou o talhe
das cantarias numa fachada,
qual
o baloiçar ronceiro de um carro eléctrico
zumbindo numa subida,
qual
a moldura de uma ponte
a enquadrar a golfada do rio,
qual
o percurso de um passeio
moroso ao escurecer,
mas sei-o como efeito de estilo,
questão de prosa
ou de poesia trabalhada,
de ironia, de uma pobre
ironia biográfica
in O CONCERTO CAMPESTRE
terça-feira, 20 de março de 2012
sobre a edição 2012 "mãos à obra"...
...para os interessados está disponível no Jornal "As Artes entre as Letras", de 14 de março do corrente ano (nº70) uma grande entrevista à vereadora da cultura da câmara municipal, sobre a edição "mãos à obra".
p.s. o jornal pode ser adquirido nos quiosques e tem um custo de 2 euros
p.s. o jornal pode ser adquirido nos quiosques e tem um custo de 2 euros
...já faltam menos de 24HORAS
de megafone na mão anunciamos:
"a poesia está na rua" está a 1 dia de se apresentar na sua nova "moldura"...
o programa vai ficar disponível aqui e poderá ser consultado no balcão de informações da câmara municipal (em suporte papel).
"mãos à obra" que o dia é certo e a poesia também!!!
"a poesia está na rua" está a 1 dia de se apresentar na sua nova "moldura"...
o programa vai ficar disponível aqui e poderá ser consultado no balcão de informações da câmara municipal (em suporte papel).
"mãos à obra" que o dia é certo e a poesia também!!!
quarta-feira, 7 de março de 2012
partilhamos, pelo simples prazer da partilha... #03
“Não é por palavras
que sentimos a musica,
a poesia e a arte em geral”
autor desconhecido
terça-feira, 6 de março de 2012
partilhamos, pelo simples prazer da partilha... #02
A palavra viva possui uma alma da qual a palavra escrita não é mais do que uma imagem.
partilhamos, pelo simples prazer da partilha... #01
«POR BELEZA DAS FORMAS, NÃO ME PROPONHO INDICAR AQUELA QUE OS DEMAIS POSSAM JULGAR, ISTO É, AQUELA, POR EXEMPLO, DE ESTAR VIVO, OU A DE CERTAS PINTURAS; MAS REFIRO-ME A QUALQUER COISA DE RETILÍNEO E DE CIRCULAR E ÀS FIGURAS PLANAS E SÓLIDAS QUE SÃO GERADAS POR MEIO DA ROTAÇÃO QUER DE RÉGUAS, QUER DE ESQUADROS, SE ME FAÇO ENTENDER, E ESTAS NÃO DIGO QUE SEJAM BELAS RELATIVAMENTE A ALGO, MAS QUE POR NATUREZA E POR SI PRÓPRIAS SÃO BELAS E CONTEEM EM SI CERTOS PRAZERES PRÓPRIOS QUE NADA TEEM A VER COM OS PRAZERES PROVOCADOS POR ESTÍMULOS.»
PLATÃO
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
conferência de imprensa para apresentar a nona edição do programa "a poesia está na rua"
mãos à obra
conferência de imprensa
salão nobre dos paços do concelho
dia 5 de março pelas 11:00h
o convite é para todos os que o aceitarem...
conferência de imprensa
salão nobre dos paços do concelho
dia 5 de março pelas 11:00h
o convite é para todos os que o aceitarem...
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
ainda do "nosso" poeta...
Lamento para a língua portuguesa
Não és mais do que as outras, mas és nossa, e crescemos em ti. Nem se imagina que alguma vez uma outra língua possa pôr-te incolor, ou inodora, insossa, ser remédio brutal, mera aspirina, ou tirar-nos de vez de alguma fossa, ou dar-nos vida nova e repentina.
Mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.
Mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
Mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade,
e que a ti nos prendesse melhor grade.
Bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.
Matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
de violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
e dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.
Agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
De assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam triunfantes na raiva e na oração, no amor, no grito de desespero, mas foi noutro atrito que tu partiste até as próprias jantes nos estradões da história: estava escrito que iam desconjuntar-te os teus falantes na terra em que nasceste, eu acredito que te fizeram avaria grossa.
Não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. Nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.
Mas com o que te resta me iluminas.
in "Antologia dos Sessenta Anos
Não és mais do que as outras, mas és nossa, e crescemos em ti. Nem se imagina que alguma vez uma outra língua possa pôr-te incolor, ou inodora, insossa, ser remédio brutal, mera aspirina, ou tirar-nos de vez de alguma fossa, ou dar-nos vida nova e repentina.
Mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.
Mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
Mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade,
e que a ti nos prendesse melhor grade.
Bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.
Matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
de violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
E toda a gente o diz, mesmo essa que anda por tal degradação tão mais feliz que o repete por luxo e não comanda, com o bafo de hienas dos covis, mais que uma vela vã nos ventos panda cheia do podre cheiro a que tresanda.
Foste memória, música e matriz
de um áspero combate: apreendere dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.
Agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
De assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam triunfantes na raiva e na oração, no amor, no grito de desespero, mas foi noutro atrito que tu partiste até as próprias jantes nos estradões da história: estava escrito que iam desconjuntar-te os teus falantes na terra em que nasceste, eu acredito que te fizeram avaria grossa.
Não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. Nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.
Mas com o que te resta me iluminas.
in "Antologia dos Sessenta Anos
do poeta Vasco Graça Moura
O suporte da música
O suporte da música pode ser a relação entre um homem e uma mulher, a pauta dos seus gestos tocando-se, ou dos seus olhares encontrando-se, ou das suas
vogais adivinhando-se abertas e recíprocas, ou dos seus obscuros sinais de entendimento, crescendo como trepadeiras entre eles.Osuporte da música pode ser uma apetência
dos seus ouvidos e do olfacto, de tudo o que se ramifica entre os timbres, os perfumes, mas é também um ritmo interior, uma parcela do cosmos, e eles sabem-no, perpassando
por uns frágeis momentos, concentrado
num ponto minúsculo, intensamente luminoso, que a música, desvendando-se, desdobra, entre conhecimento e cúmplice harmonia.
mãos à obra - vem aí nova edição do programa "a poesia está na rua"
a nova edição está a ser preparada e o poeta Vasco Graça Moura dará um forte contributo para o sucesso da mesma...
Vasco Graça Moura celebra este ano cinquenta anos de vida literária.
Autor de uma obra literária de proporções homéricas, na poesia, na ficção, no teatro e no ensaio, tradutor de Dante, Shakespeare, Racine, Corneille, Rilke, etc.
Homem de vasta erudição, ocupou diversos cargos, tais como: Secretário de Estado em dois governos (1975-76), Director da RTP-2 (1978), Administrador da Imprensa Nacional (1979-89), Comissário-Geral de Portugal para a Exposição Universal de Sevilha (1988-92), Presidente da Comissão dos Descobrimentos Portugueses e Director da Revista Oceanos (1988-95), Director do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian (1996-99).
Eleito como independente nas listas do PSD, foi deputado ao Parlamento Europeu durante dez anos (1999-2009).
É, desde Janeiro de 2012, o novo Presidente do Centro Cultural de Belém.
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